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Tubérculo ou Rizoma?
Atualizado: 17 de Fev de 2020
Partes das plantas como raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes são utilizadas na nossa alimentação diariamente. Apesar de muito importantes, desconhecemos a morfoanatomia e os compostos bioativos presentes em grande variedade de vegetais.
Alguns deles são muito parecidos morfologicamente, no entanto, apresentam classificações diferentes.Como exemplo temos batatas, gengibre inhame ou cará e taro. Por se desenvolverem abaixo da superfície do solo, comumente, acredita-se que estas estruturas são raízes, e não o são. São caules subterrâneos do tipo tubérculo e rizoma.
Mas como podemos diferenciar visualmente estas estruturas tão parecidas?
O tubérculo é um caule intumescido, alongado, com grande quantidade de reservas e gemas (denominadas de olhos), regiões onde se desenvolvem novos brotos. O inhame ou cará (Dioscorea spp.) e a batata inglesa (Solanum tuberosum) são tubérculos (Figura 1A e B). O rizoma é um caule espesso, também rico em reservas, caracterizado por nós e entrenós bem definidos como podemos visualizar no taro (Colocasia esculenta) e no gengibre (Zingiber officinale) (Figura 1C e D) (Souza et al.; 2013).
O inhame ou cará (tubérculo) e o taro (rizoma) são encontrados geralmente misturados nas gondolas dos supermercados, quitandas e varejões como sendo a mesma espécie e a mesma estrutura subterrânea, gerando muita confusão quanto a nomenclatura e nas utilizações industriais.

Figura 1- Caules subterrâneos do tipo tubérculo: (A) inhame ou cará e (B) batata inglesa. Setas pretas indicam as gemas. Rizoma: (C) taro e (D) gengibre. Setas vermelhas indicam nós dos rizomas. Imagens: Tessmer, M.A.
O inhame ou cará e o taro são consideradas hortaliças negligenciadas ou plantas alimentícias não-convencionais (PANCs) (Siqueira, 2009). Estas hortaliças eram consumidas por comunidades locais de regiões específicas do Brasil no passado e quase desapareceram, atualmente, sua produção e consumo vem sendo resgatada e introduzida até mesmo na alta gastronomia.
O taro (Colocasia esculenta) é rico em carboidratos, proteínas, amido e fitoquímicos como alcalóides, glicosídeos, flavonóides, terpenóides, saponinas e fenóis (Krishnapriya; Suganthi, 2017). O inhame ou cará (Dioscorea spp.) apresenta diversas vitaminas do complexo B, A e C (ácido ascórbico), amido, proteínas e gordura (Castro et al.; 2012). Também possuem sapogeninas esteroidais, utilizadas na produção de cortisona e hormônios sintéticos (Siqueira, 2009). A elevada quantidade de amido nas estruturas subterrâneas de ambas espécies se deve a característica de serem órgão de reserva da planta (Figura 2).

Figura 2 – Tubérculo de inhame (Dioscorea alata): células integras e partidas com grânulos de amido ao redor do corte de inhame minimamente processado. Imagens: Tessmer, M.A.
Além de muito versáteis na culinária, estas estruturas subterrâneas são altamente nutritivas, apresentam propriedades medicinais e potencial para produtos farmacêuticos e industriais.
Texto escrito por Magda Andréia Tessmer
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Referências
Castro, A. P. C.; Fraxe, T. J. P.; Pereira, H.S.; Kinupp, V.F. Etnobotânica das variedades locais do cará (Dioscorea spp.) cultivados em comunidades no município de Caapiranga, estado do Amazonas. Acta Botanica Brasilica, v. 26:3, p. 658-667, 2012.
Krishnapriya, T. V.; Suganthi, A. Biochemical and phytochemical analysis of colocasia esculenta (L.) Schott tubers. International Journal of Research in Pharmacy and Pharmaceutical Sciences, v. 2: 3, p. 21-25, 2017.
Siqueira, M.V.B.M. Inhame (Dioscorea spp): uma cultura ainda negligenciada. Horticultura Brasileira, v. 27, p. S4075-S4090, 2009.
Souza, V.C.; Flores, T. B; Lorenzi, H. Introdução à botânica: morfologia. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2013, 222 p.